A movimentação do último final de semana apenas confirmou a lambança do jogo político: cada um por si e o diabo por todos. Estava escrito nas estrelas: ao final do prazo para a formação das alianças, veríamos com clareza as alianças que jamais foram sonhadas. Pior, não se discutiu interesses de governo, apenas interesses pessoais e de partidos que mantêm o controle da máquina e fazem o diabo para manter os seus interesses para continuidade do poder de distribuir cargos e obras. Ninguém entrega o poder graciosamente.

Pedro Taques, depois de uma passagem notável pelo Senado da República, elegeu-se governador vendendo o sonho de que transformaria Mato Grosso em um estado moderno e que baniria a corrupção. Não roubaria e nem deixaria roubar.  Procurou abrigar-se em um partido de projeção nacional e encontrou no PSDB o lugar que poderia leva-lo, quem sabe, no mínimo, à Vice-Presidência da República, num primeiro momento. Errou feio. Além de pairarem sombras pesadas sobre seu governo, com relação à Grampolândia Pantaneira, com direito a falsificação do protocolo da denúncia feita pelo Procurador Mauro Zaque, envolvendo diretamente seu primo, Paulo Taques, seu homem de confiança, então Chefe da Casa Civil, hoje preso preventivamente, Pedro Taques conseguiu desagradar a todos e nem o mínimo que se esperava dele aconteceu: um governo limpo, isento de máculas.

Transformou aqueles que chamava de bandidos, por apoiarem o Governo Silval Barbosa, e seus principais aliados e os amigos e companheiros de tantas batalhas pularam fora do barco, a começar do seu vice que renunciou e juntou-se à turma dos dissidentes insatisfeitos que, amontoados a outros, formaram um aliança liderada pelo DEM, para tentar derrotá-lo e continuar a desfrutar o poder.

Taques, ao filiar-se ao PSDB, embora não tenha feito nenhuma ação partidária, como encontros regionais, atos de filiação de prefeitos e vereadores, julgou, por ser governador, que num passe de mágica seria transformado em “dono” do partido. Não contava, porém, com a resiliência do Deputado Nilson Leitão, peessedebista de primeira hora, que tocou o partido nos piores momentos e que pela sua atuação destacada na Câmara dos Deputados conseguiu conquistar o carinho e o respeito da cúpula partidária.

Taques sonhava assumir o comando do PSDB por completo. Quando da Convenção para eleger o novo diretório, quis impor sua assessora Paola Reis. Não vingou. Acabara de entrar no ônibus e já queria sentar-se à janela. Nilson, o dono no Estado, deu a presidência ao jovem Paulo Borges, conciliador, criado no meio da política e que poderia conciliar todos os interesses. Não deu certo. O desejo de vingança tomou conta do governador. Não estava acostumado – e ainda não está – a ser desafiado frontalmente.

Começa a discussão para o pleito de 2018. Nilson comunica que será candidato ao Senado, com o que Taques não concorda: tinha outros planos, entre eles ter a seu lado, como ocupante da primeira vaga, a juíza aposentada Selma Arruda, alcunhada de “Sérgio Moro de saias” por ter mandado para a cadeia Silval Barbosa e outros, ação que dava sustentação ao discurso de moralidade de Taques. Leitão bate o pé, diz ter o apoio de 40 prefeitos e um expressivo número de vereadores e que não abrirá mão da vaga.

Taques nunca escondeu de ninguém seu sonho de ter Selma no seu palanque. Mesmo quando o PSL da juíza parecia estar fechado em outras coligações, eles se encontravam para falar de amenidades. Com o tempo correndo e a necessidade de fechar a coligação, Nilson, com aval de Taques, convida Adilton Sachetti para a segunda vaga, Tudo acertado e vem o troco: Pedro também oferecera a mesma vaga a Selma. No jogo de braço, Selma levou a melhor, pois tinha a seu favor um Partido para oferecer, além de uma candidatura de peso, Victório Galli, que estava em busca de uma coligação para garantir-lhe a reeleição. Era o que Pedro precisava para dar alguma chance a Marco Marrafon e Luís Carlos Nigro, fiéis escudeiros sem qualquer perspectiva de eleição.

Selma era tudo o que Nilson não queria. Com o fechamento da coligação ela passa a ocupar, pela vontade do governador, a primeira opção para o Senado, ou seja, vai direcionar a ela todas as ações possíveis para elegê-la. Dane-se Nilson Leitão, que não lhe pediu bênçãos quando entrou no partido.

Dois fatos no final de semana quase estragaram a armação feita pelo governador: o primeiro foram as declarações bombásticas do Cabo Gerson no caso da Grampolândia Pantaneira, envolvendo-o com seu primo como os responsáveis pela gravação ilegal, com interesses políticos, de mais de sete mil pessoas. Pedro sempre negou, mas agora bate às portas do seu gabinete. Vai passar um bom tempo tentando se explicar e, como diz o ditado, precisou explicar é porque está complicado. “O interrogatório do cabo Gerson foi completo, minucioso, o que deixa claro e evidente que a versão dele – junto com as provas vertidas nos autos – é verdadeira. E portanto, agora a procedência da ação ganhou um contorno muito mais sólido”, disse o promotor, Allan Sidney do Ó Souza.

O segundo fato foi a declaração de Selma: por orientação de seu marqueteiro, usou sua rede social para seus eleitores com a mensagem de que o que importa é o voto nela, que é pura, ética e que não tem esse negócio de estar vinculada e ou dando apoio à coligação a que pertence. Quem vai votar nela pode votar em qualquer candidato a governador e que o segundo voto ao Senado pode ser para qualquer um. Alianças só existem para se ter tempo de TV. Um escárnio! Com cara de santa e apoio do governador, pediu desculpas. Disse que a inexperiência levou-a a tão desastrosa declaração. Não é verdade! Sob orientação, fez exatamente o que seu marqueteiro queria. Após a crise, gravou novo vídeo dizendo que apoiava a coligação e que tudo estava resolvido. Mas o estrago já estava feito. A impressão que se tem é que o Leitão está no rolete, assando, cheio de temperos, para ser degustado ao longo do processo eleitoral. É esperar pra ver.

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*Ricarte de Freitas é advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal (ricartef@gmail.com)

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