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A importância da vida: o trabalho do CVV em prevenção ao suicídio

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A importância da vida: o trabalho do CVV em prevenção ao suicídio

Desde o início de 2018 a Grande Cuiabá tem registrado diversos casos de suicídios. Mais do que apenas números, esses casos representam vidas se esvaindo, seja pela solidão, pela depressão, ou pelas dezenas de motivos que levam uma pessoa a desistir de si. Do outro lado da moeda está o Centro de Valorização à Vida (CVV), uma instituição que com apoio emocional tem salvado milhares de pessoas anualmente.

O CVV chega a receber 2 milhões de ligações por ano em todo Brasil. A instituição tem uma sede em Cuiabá há 26 anos, que conta com cerca de 60 voluntários. Os atendimentos podem acontecer por ligação (o mais conhecido), presencial (nas sedes espalhadas pelo Brasil), através de um chat, Skype, email, cartas e através do CVV comunidade.

A pessoa que precisa de ajuda pode procurar os voluntários – completamente preparados para o trabalho – através desses meios de comunicação e receber o atendimento de forma totalmente anônima e sigilosa. Os voluntários estão sempre apostos para ouvir, ajudar e apoiar e o solicitante não precisa nem mesmo dizer seu nome.

Quando uma pessoa liga no número 188 – cuja ligação é gratuita, pode ser feita de qualquer canal (celular, telefone fixo, orelhão) e funciona em território nacional – ela pode cair em qualquer ramal de 18 estados do Brasil (até o fim deste ano o circuito estará disponível para todos os estados).

Os atendimentos são um apoio emocional, aquele amigo que a pessoa precisa naquela hora para conversar e não tem, seja para contar algo bom, ou ruim. O CVV está sempre aberto para provar que você não está sozinho.

“É sempre um problema? Não. Tem bastante gente que liga para contar coisas boas, para dar bom dia, para se congratular que aconteceu alguma coisa feliz, mas naquele momento não tem ninguém da sua família ali para falar, então ela liga para o CVV e fala conosco. Os atendimentos são pontuais para aquilo que a pessoa está precisando naquele momento”, contou a voluntária Gladis Cassel.

Preparação dos voluntários

Os voluntários passam por um treinamento intenso, que dura 12 semanas. São 12 encontros em que é passada a base teórica do trabalho e também alguns treinamentos práticos.

Gladis Cassel, voluntária do CVV há dois anos

A bancária aposentada Gladis Cassel trabalha como voluntária desde 2016, começou depois de ver propagandas a respeito do treinamento e da filosofia de vida do CVV.

“Eu tinha uma vontade muito grande de fazer esse trabalho, de escutar as pessoas, de acolher. Então eu me interessei, fui atrás, passei pelos treinamentos e desde então estou lá”, disse.

Neste domingo (25) está sendo iniciado um curso para novos voluntários do CVV. O curso é realizado duas vezes por ano e quem tiver interesse pode entrar em contato pelo email cuiaba@cvv.org.br, ou ir até a sede da instituição em Cuiabá, na Rua Comandante Costa, nº 296, Bairro Centro.

No treinamento inicial são oferecidos os métodos e a filosofia do CVV e a prática no atendimento, principalmente por telefone. Depois, os voluntários seguem se atualizando sempre que possível, com vários cursos, para que o atendimento seja o melhor possível.

“Nós passamos como o CVV vê a pessoa, como nós devemos atender, como nós devemos tratar essa pessoa nessa relação de ajuda, principalmente a questão do sigilo, do anonimato, do respeito, da aceitação, da compreensão e da confiança que nós temos, que atendendo essa ligação, ao chat, a essa escuta, a pessoa vai conseguir reorganizar seus pensamentos”, disse Gladis.

Qualquer pessoa acima de 18 anos é bem-vinda, basta ter vontade e disponibilidade de acolher, ouvir e ajudar o próximo sendo voluntário. Essas pessoas, que agem como anjos na vida de quem os procura, são seres humanos comuns, de diversas profissões, como juízes aposentados, administradores, professores, pessoas que nunca trabalharam foram de casa e policiais.

Eles se dedicam e se entregam e quando salvam uma vida sentem como se o grande objetivo de suas vidas tivesse sido cumprido. “Nos sentimentos felizes, dá um sentimento de utilidade muito grande para o trabalho”, afirmou Gladis.

Quando a pessoa resolve ser voluntária, ela se compromete a uma vez por semana dedicar quatro horas ao trabalho de escuta. O atendimento telefônico funciona 24 horas e o presencial, em Cuiabá, das 08 horas às 16 horas.

Sede do CVV em Cuiabá, na Rua Comandante Costa, nº 296, Bairro Centro

Gladis contou que o CVV não muda somente a vida de quem está ligando, mas também a do voluntário, que passa a ver o mundo e as pessoas de outra forma.

“Nós dizemos que é um jeito de ser CVV, porque a gente aprende a colocar os nossos olhos na pessoa e não no problema. A gente aprende ali a respeitar, a aceitar e a compreender a pessoa como ela é e como ela está naquele momento, então isso vai fazendo diferença na nossa vida também, inclusive nos nossos relacionamentos familiares e cotidianos”, disse.

A sede é mantida através de doações dos próprios voluntários e da sociedade, através da FAV – Fraternidade de Apoio À Vida -, que é a mantenedora do CVV Cuiabá. Quem quiser ajudar financeiramente pode enviar um email para favcuiaba@gmail.com. Além disso, todos os anos é realizado um almoço para arrecadar fundos, o “Bifão”, que este ano será no dia 20 de maio.

Visão, missão e princípio

O CVV vê o indivíduo como um ser único, com total capacidade de resolver suas próprias situações, desde que ele tenha um ambiente favorável para isso. E é isso que os voluntários tentam fazer, dar esse ambiente para que a pessoa reorganize seus pensamentos e sentimento.

O maior princípio da instituição é o que leva no nome, a valorização da vida, mas o trabalho também é norteado pelo respeito, a compreensão e a aceitação da pessoa pelo momento que ela está passando.

“A missão do CVV é a busca de uma sociedade mais solidária e mais fraterna”, afirmou Gladis.

Alto índice de suicídio

Tem sido frequente manchetes com casos de suicídios na Grande Cuiabá, os números assustam e as notícias ainda mais. Gladis acredita que são inúmeros os motivos que levam uma pessoa a tirar a própria vida.

“A gente entende a solidão como um dos motivos, a depressão, a tristeza, um fato ocorrido na vida, que a pessoa não consegue suportar, não consegue transpor aquela barreira, a falta de conversa, falta de diálogo, falta de ser escutado nas suas angústias, não ter com quem conversar. Todos esses são fatores que podem levar a pessoa a pensar em desistir da vida”, disse a voluntária.

Mas, para ela, a melhor forma de combater esse mal seria falar abertamente sobre ele, fazer com que o suicídio deixe de ser um tabu na sociedade, que as pessoas já não precisem se sentir envergonhadas, com medo de falar e, só por isso, já acontecer.

“A gente [CVV] entende, assim como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e as pesquisas nos mostram, que falar abertamente sobre suicídio, de forma esclarecedora, vai fazer com que as pessoas pensem mais a respeito disso. E quanto mais nós falarmos a respeito disso, mais as pessoas vão se vendo dentro deste contexto e se analisando. Então falar abertamente, para nós, ainda é a melhor solução”, afirmou Gladis.

Campanha: você não está sozinho

Ela acredita que se a pessoa se identificar com os sintomas que levam ao suicídio há uma chance maior dela procurar ajuda. E que quando o ser humano se omite e se esconde, acaba ficando muito só, o que pode o levar a desistir da vida.

E para quem já percebeu que precisa de ajuda, mas ainda não teve coragem de procurá-la, Gladis deixou uma mensagem:

“Não tenha medo, nós estamos lá como amigos, dispostos a escutá-lo, dispostos a compreender, aceitar. O CVV tem como um dos princípios o não julgamento, então não se preocupe com o que pode ser pensado, ou qualquer coisa assim, porque nós estamos lá para escutar, para compreender, para aceitar, de forma tranquila, sigilosa e anônima. Pode ligar sem medo”.

Centro de Valorização à Vida (CVV), ligue 188, ou procure a sede de sua cidade. Em Cuiabá, na Rua Comandante Costa, nº 296, Bairro Centro, das 08 às 16 horas. Como disse Gladis: “você não está sozinho”.

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