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A Cuiabá nas músicas: confira canções que citam a capital mato-grossense

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A Cuiabá nas músicas: confira canções que citam a capital mato-grossense

“É como não sentir calor em Cuiabá” todo mundo canta. O trecho é apenas uma das canções que circulam pelo Brasil com menções à capital que neste domingo, completa seus 299 anos. Além dos compositores de rasqueado que relembram costumes típicos da cultura cuiabana, a cidade é citada por sertanejos de raiz e suas características naturais rendem metáforas para as letras do rock e do rap nacional. Tema de enredo de escola samba cariosa, em 2013, o centro geodésico da América do Sul também já foi verde e rosa na Sapucaí.

TAXI LUNAR
Há algum tempo os cuiabanos se perguntam: teria Zé Ramalho tomado em Cuiabá um táxi para a lua? É o que indica a primeira versão da clássica canção “Táxi Lunar”, de 1973, que chamou atenção dos fãs no último show Grande Encontro, realizado na capital no ano passado. A música, com poesia de Alceu Valença e refrão assinado por Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, faz parte do primeiro disco do músico.

Geraldo não diz muito sobre o porquê da menção, mas garante que foi Ramalho quem a inseriu. “Nos estúdios eu ficava tocando violão e esses acordes sugeriram a música. Não fui nem eu, o violão achou para mim. Passei muito tempo com essa melodia e criei o refrão. Mostrei a ideia para Zé Ramalho que estava em outro lugar, aí as palavras vieram e ele colocou”:

“Apenas apanhei em Cuiabá um taxi pra estação lunar […]”

 

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CALOR QUE INSPIRA 
Através do hit da banda Skank, o calor de Cuiabá é cantado em todo Brasil, sendo a característica mais atrativa aos compositores quando se trata de menções à cidade. O rapper Emicida também parece identificar algumas de suas angústias e realidades com o calor cuiabano e não economiza citações à “hellcity” para construir metáforas em suas canções. Para os músicos, as altas temperaturas são inevitáveis aos cuiabanos como um grande amor é para seu apaixonado. É também forte e efervescente como a realidade de jovens negros que buscam fugir de estigmas excludentes no Brasil.

Zica, Vai Lá
(Emicida)

“Ser alvo de câmeras que não fossem do circuito interno
De social, terno
Pois somos como Cuiabá quentes até no inverno
Ai ó como o tio compete
O céu é o limite?
Isso serviu em dois mil e sete
Rua, como dar panfleto
Vim botar pra foder,
E você sabe o que eles dizem sobre os pretos”

 

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Beira da Piscina
(Emicida)

“Eu gosto é de uma beira de piscina fria
Esteira e jornal do dia, chinelo singelo (Luuupa)
Corro pro colo e vem pro pai (Upaah)
Ê, pra mim isso é viver
Sombra de palmeira truta, suco de fruta natural
Desfruta de um clima tropical, e vem amor
Olha tem um ninho de beija-flor
E esse calor que tá, me lembra Cuiabá”

Te ver
(Skank)

Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável, é dor incrível

É como não sentir calor em Cuiabá
Ou como no Arpoador não ver o mar
É como não morrer de raiva com a política
Ignorar que a tarde vai vadia e mítica
É como ver televisão e não dormir
Ver um bichano pelo chão e não sorrir
É como não provar o néctar de um lindo amor
Depois que o coração detecta a mais fina flor

SAMBA-ENREDO DA MANGUEIRA
Não só citada, Cuiabá já foi tema do samba-enredo de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro.
 Naquele ano, 2013, a “cidade verde” da “manga rosa” foi levada ao pé da letra em um desfile da Mangueira que exaltou as características naturais do Estado e da capital, em plena Sapucaí. Em meio à polêmicas judiciais, resultante do investimento milionário da Prefeitura à época, o enredo do desfile teve como fio condutor a espera de 150 anos por um “trem que nunca chegou à capital”.

Cuiabá, um paraíso no centro da América
(Lequinho, Jr. Fionda, Igor Leal e Paulinho Carvalho)

“Dai-me inspiração, oh Pai!
Pois em meus versos
quero declamar
A capital da natureza, eternizar
Embarque na Estação Primeira
O mestre a nos guiar
Bambas imortais, o eldorado
dos antigos carnavais
Num relicário de beleza sem igual
Fonte de riqueza natural
Cidade formosa…Verde…Rosa
Teu nome reluz,
Vila Real do Bom Jesus
O apito a tocar preste atenção!
Mistérios e lendas de assombração
Segui com coragem,
mostrei meu valor
É a Mangueira a todo vapor

Em cada lugar, um
“causo” que o povo contou
Em cada olhar, na arte
num poema brilhou
Um doce sabor,
tempero pro meu paladar
Procure seu par a
festança já vai começar
Na bênção de São Benedito eu vou
Dançar com o meu amor, o sonho
enfim chegou
Ao paraíso, emoldurado
em cintilante céu azul
Bendita sejas terra amada!
O coração da América do Sul
É hora de darmos as mãos
Agora seguir a missão
Sustentar na mesma direção

Mangueira…O trem da emoção
Viaja na imaginação
Meu samba é madeira, é jequitibá
É poesia dedicada a Cuiabá”

AMOR E ESTRADA 
Alguns ícones da música brasileira parecem se inspirar em viagens a Mato Grosso, inclusive suas canções deixam grandes amores por aqui. É o caso da mestiça estimada por Renato Teixeira que pode estar Cuiabá. Em “Meu Veneno”, ele dá um giro por Mato Grosso até chegar a Porto Velho; Cuiabá também é uma de suas paradas. Já as “gargantas de ouro” de Milionário e José Rico também entoam o entusiasmo pelos bailões cuiabanos em noites de lambadão.

Meu Veneno
(Renato Teixeira)

“No Mato Grosso
Fui a Poconé, Sinop,
Cuiabá, Barra do Garças,
Alta Floresta, Porto Jofre
Também passei
Por Várzea Grande,
Rondonópolis,
Em Barão de Melgaço
Eu parei pra pernoitar”

Mestiça
(Almir Sater)

“Se ocê vai pra Mato Grosso
Não deixe de me avisar

Eu quero mandar um recado
Para minha mestiça, que venha pra cá

Não sei por onde ela anda
Por favor, vá procurar

Procure em Aquidauana
Em Porto Murtinho
E também Cuiabá”

 

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Bailão Cuiabano
(Milionário & José Rico)

“Me dê licença eu preciso ir embora
Já está quase na hora
E não posso demorar

Neste momento o baile está começando
Tem alguém me esperando
Eu não posso me atrasar 

Lambadeira, lambadeiro 

Neste momento preciso sair rasgando
E já vou entrar dançando
Lambadão em Cuiabá”

REGISTROS DA CIDADE
A vivência dos compositores de “tchápa”, no entanto, resultam em fidedignos retratos dos costumes que permeiam os 299 anos de história de Cuiabá, principalmente quando se trata de gêneros musicais típicos da terra, como é o rasqueado. Suas letras exaltam a culinária, a arquitetura e a infância típica da cuiabania, principalmente as mais tradicionais, transformando-se em um registro do patrimônio material e imaterial da cidade. Confira algumas destas canções mais clássicas:

Cuiabá, Cuiabá
(Henrique e Claudinho)

“Tem São Gonçalo, Cururu e Siriri
Cuiabá, Cuiabá
Do Coxipó do Ouro, da manga e do pequi
Da Lixeira e do Jardim Araçá
São Benedito, parque da exposição
Beco do Candeeiro, Panacéia e Choppão
No CPA, onde a noite a gente vara
Da velha Prainha e Maria Taquara
Cuiabá, Cuiabá
Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá
Tem Jejé, samba na avenida, mas em Leverger é que se vive a vida”

Cabeça de boi
(Henrique, Claudinho e Pescuma)

“Oh Cuiabá, Cidade Verde, ai, ai, ai
Com cheiro de pequizá, ai, ai, ai
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Vou comer pacu assado, tomar pó de guaraná
Meu amor brigou comigo, ai, ai, ai
Eu não sei onde ela foi, ai, ai, ai
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi
Só sei que eu vou lá pra Guia, comer cabeça de boi”

Casa de bem-bem
(Vera e Zuleica)

“Eu tenho orgulho de ser um cuiabano
De tchapa e cruz com fé senão me engano
Moro na pracinha, ao lado da Prainha
Sento na praça para ver as moreninhas
Gosto de amargo, ventrecha de pacu
Mojica de pintado e bagre ensopado
Danço rasqueado na casa de bem-bem
Como bolo de arroz e de queijo também”

Piché
(Moisés Martins)

“Milho torradinho socado, canela açucarada
a branca pura daquela gurizada
Do tempo do Campo D´Ourique,
Quando a pandorga, o finca-finca
o buscapé e o trique-trique
pintavam o céu com pingos de luz
É tempo bom que não volta mais
Só na lembrança de quem foi menino,
Hoje é rapaz.
Milho torrado, bem socadinho
Ah, que saudade do meu tempo de menino
Um dia ainda verei eu tenho fé
Meu neto, meu neto
Com a boca toda suja de piché”

Foto: Pedro Augusto

Sol tá quente pra daná
(Moisés Martins)

“O sol tá quente prá daná; tá, tá, tá, tá.
O calor tá de matá; tá, tá, tá.
Prá refrescá, oi,
Prá refrescá, oi.
Vou me banhá nas águas do Cuiabá.

Quando mergulho nestas águas,
Sinto o corpo arrepiar,
Lembro das belas viagens,
Que eu fiz a Corumbá.

Das chalanas preguiçosas,
Regiões do pantanal,
Do doce beijo das águas,
Cuiabá e Paraguai

Dourado peixe,
Peixe dourado,
Vai dizer prá natureza,
Devolver o meu passado”

 

Cidade Verde dos meus amores
(Moisés Martins)

Cidade Verde dos meus amores
Cidade de grata memória,
página heróica da nossa história.
Casarões, igrejas, palmeiras imperiais.
Cidade verde, como mudou,
de belo que tinha pouco ficou.
Cidade verde dos mangueirais,
Cidade verde da esperança,
do meu texto de criança,
que não volta mais.
Das pescarias lá da Prainha,
Festa de santo, das ladainhas,
bola de meia, quitutes de fundos de quintais.
Cidade verde dos meus amores.
Tanque do Baú, Rua das Flores,
passear no jardim,
quando o jardim era dos amores!

Beco do Candeeiro por Bruna Barbosa

Rasqueado do pau rodado
(Pescuma e Pineto)

“Não aguento mais ser chamado de pau rodado
Já tomo licor de pequi, já danço o Siriri
Como bagre ensopado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Sou devoto de São Benedito
Até já danço o rasqueado
Adoro banho de rio, vou direto pra Chapada
Na noite cuiabana tomo todas bem gelada
Sou viciado no bozó, pescaria e cururu
Tomo pinga com amargo
Como cabeça de pau
Eá, Eá, Eá, só não nasci em Cuiabá
Mas no que eu cresci
Meu bom Jesus mandou buscar”

Cadê meus becos
(Moisés Martins)

Cadê meus becos?
Em cada esquina um chinfrim
Em cada bolicho um bêbado alegre,
Trançando as pernas, ansim, ansim!
Beco sem um cara chamado Chico
Sem moagem, sem fuchico
Sem vira-lata que late,
Sem biscate sem donzela
namorando na janela,
sem feijoada na panela,
Sem carrinho de peixeiro
Sem o grito o grito do padeiro,
Sem pagode, sem rasqueado
Não é beco, não!
Onde andam os meus becos?
Do sovaco, quente, torto,
Urubu, São Gonçalo, Candeeiro!
Cadê meus becos?
Entre prédios e arranha-céus, abafados.
Morrendo sem alento…
Levando tudo o que Deus me deu,
Sepultado pelo tempo

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