Cidades

78% dos casos da covid-19 são de pessoas fora do grupo de risco

Ciência ainda não consegue explicar comportamento diferente do coronavírus no Brasil, mas os efeitos podem tanto ser positivos como negativos

4 minutos de leitura
78% dos casos da covid-19 são de pessoas fora do grupo de risco
(Foto: Ednilson Aguiar/ arquivo / O Livre)

O contágio do novo coronavírus foi apresentado para o mundo com maior preocupação com as pessoas acima dos 60 anos de idade. Nos países onde os primeiros casos apareceram essa parcela da população foi a mais atingida e era a mais vulnerável aos efeitos da covid-19.

Em Mato Grosso e em boa parte do Brasil, porém, os diagnósticos positivos para a doença têm se concentrado nas faixas etárias da população mais jovem. Principalmente, nas idades próximas aos 60 anos. Ou seja, em tese, fora do grupo de risco.

Conforme dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES), dos 464 casos registrados até o fim da tarde dessa sexta-feira (8) em Mato Grosso, 362 (78%) apareceram em pessoas entre 21 e 60 anos.

O maior índice estava entre aquelas com idades 31 a 40 anos. Eram mais 139 pacientes. A segunda faixa mais larga vai dos 41 aos 50 anos (90). Em seguida, estão as pessoas com idade entre 51 e 60 (69) e 21 e 30 (64).

A média de idade dos pacientes estava em 42,6 anos.

O que a ciência diz

Pesquisadores que acompanham a evolução do contágio no Brasil ainda não tem resposta para a concentração de casos entre os mais jovens. As hipóteses mais embasadas levam em conta o quadro demográfico e a exposição desse público à doença.

“Podemos questionar se a nossa realidade demográfica é diferente de outras localidades como as metrópoles maiores que temos no Brasil. Talvez em Mato Grosso a nossa pirâmide etária seja diferente de outros locais, com uma grande concentração de jovens”, explica a médica infectologista, Márcia Hueb, coordenadora da central de controle de doenças infecciosas no Hospital Júlio Müller.

A hipótese é corroborada por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A parte mais larga da pirâmide etária no estado, tanto para homens quanto para mulheres, está entre os 10 e os 54 anos de idade.

Eles somam mais de 1,5 milhão do total de habitantes.

Esse fator preponderante é relacionado ao provável fluxo mais intensivo desse público durante os dias de contágio. E as considerações dos especialistas para explicar a maior circulação vai de baixo senso de risco sobre a doença à necessidade de sair para trabalhar.

“Jovens podem se sentir em risco menor para a covid-19 e consequentemente se colocarem mais em exposição. Um outro fator é que os jovens podem precisar se expor mais por necessidades de trabalho; afinal essa camada da população é quem mais está na atividade de trabalho” comenta a infectologista Márcia Hueb.

E os efeitos?

O que o comportamento diferente do vírus no Brasil pode gerar também é um quadro desconhecido para os estudiosos. A médica Márcia Hueb explica que a relação idade avançada e nível elevado de risco pode ser diferente em Mato Grosso e no país.

Mas, reconhece que os idosos representam uma parcela grande dos óbitos registrados até o momento. No caso de Mato Grosso, dos 15 óbitos que registrados, a maioria foi entre as pessoas próximas aos 60 anos, e todas as vítimas tinham algum tipo comorbidade.

(Foto: Reprodução/Veja) A mutação do novo coronavírus é um enigma que a ciência ainda não decifrou

“Talvez a condição ‘idade mais avançada e risco de óbito’ que é considerada associada à gravidade, pode ser diferente no Brasil, mas não se sabe, é uma condição a ser avaliada”, disse.

Por outro lado, a incidência mais alta entre as pessoas mais jovens também pode entrar na explicação de fatores do registro de mortes. Por ser mais saudáveis, eles também apresentam menos vulnerabilidade e baixa comorbidade.

“Esse é um fato que isolado pode explicar menor frequência de óbitos em jovens.  E como a doença no Brasil está quase que predominando em jovens pode explicar a menor mortalidade em Mato Grosso”, complementa.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes